domingo, 22 de abril de 2007

ADOÇÃO E CIDADANIA

Ao ser entrevistado ontem por uma emissora de TV daqui de Brasília sobre adoção, defendi e defendo sempre que a adoção é um ato cidadão. Me baseio nesta afirmação por acreditar que dar o direito a uma criança de ter uma família, ter um sobrenome, ter oportunidade de crescer em um ambiente familiar, é mais do que um ato cristão. É um ato cidadão.

Cidadão porque o primeiro núcleo de convivência social que uma criança tem acesso é a família. É no seio familiar que uma criança aprende a ter noções de justiça, de trabalho, de caráter. É no seio familiar que este aprendizado não se dá de forma coercitiva, mas é onde se trabalha o afeto e a forma afetiva de educar. É no seio familiar que a criança começa a mostrar as suas potencialidades, libera a sua criatividade e também as suas inquietações. Todo este comportamento, depois, será feito em sociedade. Seja na escola, ou no mundo do trabalho, o cidadão é sim empurrado a mostrar as suas potencialidades e alternativas para superar obstáculos.

Quem melhor pode ofertar isso a um filho são seus pais. São pais conscientes de seu papel. Um papel que responde mais do que uma simples realização afetiva e emocional. Certa ocasião, li uma reportagem que falava das diferenças do ato de adotar no Brasil e em países europeus. Na Europa, a adoção é vista como um caminho para se dar oportunidade e chance a uma criança de se formar em boas escolas, se preparar para bons empregos e conseguir se independer e caminhar com seus próprios pés.

Creio que penso de forma semelhante. O que quero proporcionar a minha filha é isso. Além do amor, do carinho e do respeito, quero oportunizar a ela a chance de ser alguém na sociedade. De construir um mundo melhor, uma sociedade mais livre, um país mais honesto e mais solidário.

Não podemos generalizar, mas sabemos que as crianças órfãs, que vivem em instituições e que chegam a maior idade longe do seio familiar, tem mais dificuldade em conseguir se afirmar, seja no aprendizado, seja nas relações sociais. É a família que baliza e que forma as relações sociais. É o pai e a mãe que ensina valores a seu filho. Em um abrigo, a criança receberá o básico para viver. Terá deveres, mas nada que substitua os conselhos de um pai e o colo de uma mãe.

Por isso também defendo a adoção como um ato cidadão. Além de respostas religiosas, filosóficas e sentimentais, adotar um filho também deve ser um ato cidadão sim. Também deve ser pensado o quão importante uma criança merece ter um sobrenome, uma família, uma base de apoio, um apoio para a realização de seus projetos de vida. Porque todos nós temos projetos de vida. Todo o cidadão merece viver em família e ter seus direitos assegurados. Se não foi em uma família biológica, deve sim ser em uma família adotiva.

Barreiras, dificuldades, conflitos, estes existirão sempre. Mas temos que ter a certeza que queremos um país melhor, uma sociedade melhor. E cada um de nós pode contribuir para isso. Pode além de apadrinhar uma criança, fazer mais. Dar a ela o direito de chamar de pai, de mãe, de vó, de vô, de primos. O direito de ter uma família, de crescer, trabalhar, se formar e ser um cidadão pleno para o bem desta nação.

Tá dado o recado.