sexta-feira, 4 de maio de 2007

DEU NO JORNAL: DEVOLUÇÃO DE CRIANÇAS

Aumento nas “devoluções” preocupa

Por Érika Busan, Gazeta do Povo/PR

O recente aumento na aceitação de crianças maiores para adoção trouxe um problema que preocupa todos os envolvidos no processo, a “devolução” de crianças. “Do ponto de vista emocional a devolução é sentida pela criança como uma reafirmação do trauma da separação – ou rejeição – de sua mãe biológica. Nesses casos, um bloqueio no desenvolvimento psíquico, físico e cognitivo é inevitável”, alerta a psicóloga Sibele Miraglia, que adotou Fábio, 10 anos, há um ano.
Mas o que acontece para alguém que se dispõe a passar por um processo, esperar algum tempo – mais curto quando as crianças são maiores – para simplesmente desistir? “Isso é uma sociedade que reproduz o mercado, a cultura do descartável”, afirma a psicóloga Barbara Snizek, que fez um trabalho de pós-graduação sobre adoção. “Para a criança, é catastrófico”, garante.Falta também preparo para esses pretendentes à adoção. “Ter um filho é também agüentar frustração. Entre o sonhado, o ideal, e o que a criança realmente é, há uma distância.

Talvez na maioria dos casos não tenha a ver com ser adotado ou não, mas com o fato de que ninguém tem idéia do que é ter um filho”, diz Barbara.“A culpa também é nossa”, assume a psicóloga Andréa Trevisan Guedes Pereira, da Vara da Infância e Juventude – Adoção. “É um processo que está mudando, as pessoas aceitam crianças maiores e estamos fazendo o processo da mesma forma. Elas têm de ser melhor preparadas.”

Os técnicos da Vara estão iniciando um projeto para ampliar o trabalho de pré-adoção, colhendo dados com quem já adotou para saber onde estão os problemas. “A idéia é passar a experiência de quem já viveu isso, como a criança costuma se comportar, como sua experiência da vida anterior influencia na adaptação”, conta a assistente social da Vara de Adoção, Salma Mancebo Corrêa.

Em Curitiba, os pretendentes à adoção passam por um curso preparatório de três dias. “Enquanto em outros países os adotantes precisam passar por extensos cursos – no mínimo 6 meses – para compreender o processo que envolve uma família por adoção, no Brasil, a maioria dos Juizados nem dispõe de preparação, simplesmente seleciona”, indigna-se a doutora em psicologia Lidia Weber.

Talvez falte mesmo para esses pretendentes compreender que a adoção é apenas um outro caminho para se ter um filho. Que, como qualquer criança, traz alegria, tristeza, emoção, dúvida, carinho, faz birra, se suja, desobedece, dá aquele abraço inesperado. É preciso estar aberto para recebê-lo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo que a adoção tardia é difícil. Concordo também que crianças não são mercadorias. Estamos na fila da adoção há dois anos e não somos diferentes do perfil da maioria: Menina branca de 0 a 4 anos. Recentemente viajamos a Santa Catarina para ver uma menina de 10 anos. Sempre soubemos das dificuldades (bico, teimosia pré-adolecência,etc) mas tentamos. Temos certeza absoluta que fizemos o melhor para essa menina, mas para ela não foi suficiente. Enfatizo a todos que não a devolvemos, pois a escolha de voltar foi exclusivamente dela. Pedimos insistentemente para que ela ficasse, mas ela estava muito infeliz dentro da nossa casa. Aprendemos da forma mais difícil: Crianças nessa idade e que foram adotadas já sabem fazer escolhas e via de regra, são mais maduras que as crianças que vivem com os pais naturais. Esse é um aspécto da adoção tardia que é pouco divulgado: A prioridade é sempre a felicidade da criança, que quando infelizes podem ser "devolvidas".
Se restaalguma dúvida dp nosso amor por ela, permitam-me registrar uma carta que ainda não tive coragem de enviar.
05 de Abril de 2008.

Menininha do pai.

Faz exatos dois dias que você se foi. Está muito difícil para eu aceitar a sua partida e a saudade me mata. Sofro de remorso por ter sido tão duro com você, mas você me obrigou a lhe ensinar os limites. Tudo tem uma explicação eu sei, mas acho que a vida seria mais fácil para todos se ao menos você expressasse as suas idéias, necessidades, saudades e medos.

Espero que esteja feliz e que continue assim por muito, muito tempo. Vimos (eu, a mãe e a Renata) a sua felicidade quando o avião sobrevoou a sua cidade. Você estava extazeada.

Não durmo bem, o clima aqui em casa não estava bom antes da sua partida, e agora eu continuo não dormindo, pois a casa está muito quieta. Não vejo mais as suas baguncinhas e não ouço mais os seus barulhinhos (quando você estava de bom humor é claro!).

Sinto um vazio muito grande quando vou trabalhar. Adorava passar a mão em sua cabeça, tirar os cabelos do seu rosto e te beijar. Pedia todos os dias ao seu anjo da guarda para te dar juízo e para acreditar que eu e a mãe adorávamos você. Mas você não quis acreditar, talvez porque gostando da gente você criaria vínculos e raízes indesejáveis que dificultariam o seu desejo de retornar as suas origens.

É uma pena você não ter se doado e não ter se permitido a ser feliz com a gente, é uma pena você não ter nos adotado.

Comentei muitas vezes que viver com a gente era muito fácil e que você não precisava ter medo da felicidade, mas você demonstrou ser dona de outras opiniões e valores muito nobres e maduros para a sua idade.

Talvez nesse momento, você esteja com a cabeça ocupada com as suas amigas, e suas priminhas que estão no lar (sim estamos sabendo!). Infelizmente minha filhinha, não tivemos coragem de contar a você que elas estavam no lar, e que a sua única esperança de voltar para a casa da sua tia seria uma decepção. Mas de qualquer maneira, seria em vão, pois você não acreditaria na gente, e certamente nos acusaria de dificultar o seu retorno, compreensível vindo de uma criança de 11 anos.

Preocupo-me muito com o fato de você estar em um novo lar, onde no mesmo terreno tem dois abrigos.
Espero que eu tenha sido uma boa referência masculina para você, não permita que os meninos te façam mal de qualquer espécie, tenho medo que você desenvolva outros traumas por conta do ambiente que você viverá.
Você é muito forte menina (física e mentalmente), admiro muito a sua determinação e força de vontade na busca da realização dos seus desejos, use essa força para se defender, cuide-se e lembre-se sempre que o seu nome é Diana, a Deusa da caça.
Siga os conselhos escritos na carta que deixamos na sua mala, cuide do seu corpo, da sua higiene, respeite as pessoas do mesmo modo que respeitamos você, seja educada e estude muito para ter um bom emprego e um bom futuro.

Case-se, tenha um bom marido, e filhos. Forme uma família e ame-a com toda a intensidade que puder. Demonstre ao mundo que você pode ser feliz apesar de todas as vezes que rejeitaram você.

Tenha orgulho dos seus acertos e quando errar saiba reconhecer. Saiba pedir desculpas ou perdão e lembre-se que orgulho demais é muito ruim para a sua vida.

Busque boas referências, pessoas de bem e que podem te ajudar numa necessidade ou em momentos difíceis. Saiba distinguir as pessoas boas das ruins.

Converse com Deus. Ele te dirá que eu e a sua mãe oramos todos os dias por você.

Quando te conhecemos há quase seis meses atrás, jamais imaginávamos que tudo isso iria acontecer. Lembro-me que a gente foi para a cidade de Treze Tilhas e entramos em uma igreja. Eu estava cheio de medos e não sabia como me comportar diante a imagem de Deus. Fiz uma prece, olhei para você e pedi permissão para Deus me deixar usar uma frase da sua oração: “Seja feita a vossa vontade”, e assim você veio com a gente.

No dia 28 de março último, diante de tantos acontecimentos tristes aqui em casa, fui a uma igreja rezar por nós três, pedi muito para Deus para que você fosse feliz e que Ele pudesse tirar de mim toda a energia necessária para que você pudesse ficar bem, e mais uma vez eu disse a Ele: “Seja feita a vossa vontade”.

Sempre dissemos a você, que a vida é feita de escolhas e infelizmente menininha, você não poderá mais voltar para nós. É uma dura e necessária decisão para o bem de todos, e foi baseada na vontade de Deus.
Se você um dia repensar em tudo isso e quiser voltar, faça por nós o que fizemos por você: Vá a uma igreja, faça uma oração com muita fé e peça a Ele para que “Seja feita a vossa vontade”. Busque o caminho e a imaginação para nos encontrar, mas faça isso depois de se casar e ter filhos.

Não escondo de você, que está muito difícil da gente assimilar tudo isso. Acabo de ver algumas fotos suas, a última que tirei de você foi em 20 de março e você estava chupando limão com sal.

Estamos nos esforçando para esquecê-la, e a partir de agora, o meu primeiro passo é deletar as suas fotos do meu celular, gravar num CD e guardar em um lugar bastante difícil de encontrar.

Você sempre será a nossa filhinha, até o último dia das nossas vidas e apesar de tudo, aprendemos sim a ser pais e somos muito gratos a você por isso.

Para nós Diana, você é única, e estará sempre nos nossos corações, mas isso não significa que estaremos fechando as portas para outra menina, se assim for vontade de Deus.

Você deve estar notando que as palavras e expressões que aqui escrevo, não são utilizadas em uma carta para uma criança de 11 anos, espero que um dia e de alguma forma esta carta chegue até você e que você a leia com muita maturidade.

Espero também que você não esteja arrependida, mas que você saiba de coração que tentamos eu e sua mãe, fazer o melhor para você (físico, mental e espiritual).

Deus te abençoe.

Anônimo disse...

Anônimo, você teria um e-mail para contato? Li seu depoimento e fiquei muito sensibilizada com ele. Realmente esta experiência me chega de forma dolorosa para ambas as partes. Obrigada.

Yara Minelli disse...

Que carta mais linda...pena que não revele tudo o que não foi feito para esta menina continuar na família...

Uma criança de 11 anos não sabe o que está fazendo com relação a permanecer ou não na família que está tentando adotá-la, faz coisas inimagináveis, eu sei adotei uma com 12 anos de idade, mas somos NÔS, os adultos, pais que temos que agir como ADULTOS, colocando as coisas nos seus devidos lugares. Minha filha não se achava minha filha nos primeiros meses da vinda para nossa casa, mas NÓS tínhamos e temos certeza de que ela era e é nossa filha, a vontade de voltar passou, e ela conseguiu, com a nossa ajuda, se aprumar na casa nova.
Esta fase de adaptação é muito difícil para as crianças e somos nós adultos que temos que nortear o melhor para elas.

Silvana Fernandes disse...

Estou sofrendo muito, adotei um menino recem nascido e hoje ele tem 13 anos seu nome é Matheus, está me dando muito trabalho, é rebelde, disse que tem vontade de ficar com outro garoto, pinta os olhos escondidos, estou ficando maluca, já até pensei em devolve-lo para o juizado, mas procurando um rumo para a minha vida, encontrei aqui um comentario que filhos geneticos não devolvemos, pq pensamos em devolver adotivos, eles não são mercadorias, e isto me fez despertar que tenho que ajuda-lo e não tenho o direito de fazer com que ele seja novamente abandonado, mas confesso que neste momento estou perdida, sem saber o que fazer....choro muito...falo coisas que não deveria falar, me magoou e sei que magoou ele tb, alguém deste blog pode me ajudar?
meu e.mail é silvana_inx@ig.com.br, desde já agradeço.
Me ajudem a ser feliz e fazer uma criança feliz....po favorrrrr....