quarta-feira, 9 de maio de 2007

É PRECISO MUDAR PARA INCENTIVAR A ADOÇÃO

Interessante foi uma discussão que li em uma comunidade do Orkut sobre adoção. Nela, a postante falava com indignação da burocracia que a Justiça impõe para o cidadão que deseja adotar uma criança de forma correta com a lei. Também se manifestou sobre as conseqüências de tanta burocracia, que leva a milhares de crianças a passar pela infância e a adolescência dentro de uma instituição. Toda a discussão sobre este tema é válida, pois só assim se começa a mobilizar a sociedade brasileira para futuras mudanças na legislação.

Se por um lado para nós, brasileiros, cidadãos, trabalhadores e pagadores de impostos o tempo de trâmite de um processo de destituição de pátrio poder e consolidação de uma adoção pode levar até um ano de duração, para um casal estrangeiro este período pode durar menos. De acordo com alguns profissionais da lei, fontes deste jornalista, o trâmite pode levar até um mês. Isso porque os custos de um processo de adoção internacional, em euros ou dólares, motivam nossos advogados a correrem com os processos. Os adotantes estrangeiros não são tão exigentes quanto nós brasileiros. Não se importam em adotar crianças negras, maiores de cinco anos e até adolescentes. Já nós brasileiros, continuamos buscando bebês, brancos e do sexo feminino. Nós brasileiros continuamos em maioria não querendo crianças mestiças, negras ou deficientes. Queremos sim buscar um bebê para alimentar em nós a sensação que os filhos do coração são biológicos. Parece-me ser uma resistência até nossa ao processo de adoção. Mas isso é algo que nós brasileiros precisamos olhar para nós mesmos para rever nossos conceitos e assumir até onde vai o nosso racismo e a nossa discriminação para com os não europeus, no caso os negros, mestiços e indígenas.

Com isso, uma outra discussão veio à tona. É justo condenar uma criança a crescer longe de um lar, crescer sem a chance de ter uma família e de aprender a ser cidadã de uma forma plena? Claro que é totalmente injusto. É injusto porque as chances de uma criança negra, com mais de três, quatro, cinco anos, e do sexo masculino ser adotada é muito menor em comparação com um bebê branco e do sexo feminino. O que sobra para tantos mestiços, pardos e negros? As muralhas dos orfanatos, os passeios com voluntários e a oportunidade de alimentar sonhos familiares, frustrados para sempre.

Antes de se tomar a decisão de destituir um pai e uma mãe do direito de criar seu filho, deve ser sim promovido um amplo e sério estudo destes casos. Mas caso não haja nenhuma condição de reintegrar este menor a sua família biológica, a adoção deve ser sim promovida e recomendada. E o tempo para que isso aconteça? Em minha opinião, um tempo máximo de dois anos. Em dois anos há sim plenas condições de ver se a família de origem realmente se preparou para receber de volta seu filho abrigado. Além disso, dois anos é o tempo que considero máximo para uma criança permanecer abrigada e longe de uma família. Bebês se tornam maiores e engrossam as estatísticas de abrigamento porque não há uma campanha sólida em favor da adoção em nossa sociedade. Há sim campanhas para promover a fertilização in vitro, mas para a adoção não há porque o tema ainda é um tabu neste país.

Em muitos testemunhos que ouvi, a adoção parece um refúgio ao fracasso biológico de um homem e de uma mulher em gerar um ser. O que não é real. Adotar é sim preencher o desejo de ser pai e mãe. É o nobre desejo de abrir mão de orgulhos e conceitos para receber como filho, ou filha, um ser que não tem seu tipo sanguineo e não herda a sua tradição familiar. Vem de outro sobrenome e, com o tempo e com a dedicação, passará a ter o seu. Adotar é amar, é sofrer, é viver por alguém. É dar amor com a garantia e com a confiança que estará realizando uma missão no mundo. A missão de levar o amor sem medida e o amor real para alguém que não merece o desamor.

Tais debates que circulam em outros tópicos e grupos pela web valem sim para fazer promover uma reflexão sobre a realidade que circunda o universo da adoção neste país. É preciso mudar para incentivar a adoção. É preciso mudar para se ofertar novos rumos para tantos brasileiros e brasileiras que sonham com um lar, com uma vida, com um direito garantido: o direito a viver em uma família.

2 comentários:

disse...

Muito boa a sua reflexão sobre a adoção no Brasil. Pobre de nós, brasileiros - nação mestiça- que estamos presos a tantos preconceitos...

ASN disse...

eu tenho o sonho de adotar uma criança negra....
ainda não me disseram nada a respeito.