domingo, 13 de maio de 2007

GLOBO REPÓRTER: EXCLUSÃO NA TEVÊ

Você assistiu ao Globo Repórter da última sexta-feira, dia 11 de maio? Pois é, foi uma bela homenagem a figura materna. O programa especial de Dia das Mães foi emocionante, nos fez pensar na linda e bela relação entre mãe e filho. Toda esta beleza teria sido perfeita e teria realmente emocionado se a produção do programa não tivesse cometido uma falha que para mim é imperdoável.

Não falou em nenhum momento das mães adotivas. Tampouco fez noção a respeito das mães que adotam crianças maiorzinhas, ato que é conhecido como adoção tardia. Será que a produção do programa não pesquisou, não descobriu nenhum case, ou não existe nenhuma mãe neste imenso Brasil que tenha adotado uma criança maiorzinha? Pelo que vi, parece que não. A pauta privilegiou apenas as mães biológicas e também apresentou as novas técnicas de fertilização para garantir a mulher a realização do sonho materno. E quem não pode gerar, quem deseja adotar. É excluída? Por que a mídia ainda vê a adoção como um ato de caridade? Ninguém pode se realizar sendo pai ou mãe (neste caso) adotivo? E falar em adotar uma criança com mais de três, quatro, cinco, dez anos.. aí é mais tabu ainda. É um ato de benemerência.

Quem de nós ao adotarmos uma criança maiorzinha ( e este é o meu caso) não ouviu: "mas porque vocês não pegam um bebezinho.. olha, aí ele cresce e vocês nem precisam contar que ele é adotivo". Como se fosse uma vergonha ele saber que está sendo adotado para ganhar uma nova família. Pergunto: por que nossa sociedade é tão caridosa e tão hipócrita ao mesmo tempo? Caridosa em achar lindo o ato da adoção. Hipócrita porque incentiva a perpetuação do abandono e da dor. Ou por acaso as mesmas pessoas que nos falam para adotar um bebê pensam que uma criança maiorzinha não tem desejo em ter uma família. Não quer também entregar um cartãozinho ou um presentinho no Dia das Mães e dar um beijo naquela pessoa que lhe passou a dar um nome e uma chance de ser alguém.

Para a produção do Globo Repórter e para a mídia em geral, parece que não. Parece que não interessa se falar em adoção. Muito menos em adoção tardia. Até porque não dá IBOPE mostrar a dura face do abandono e da exclusão social. Exclusão social que não discute natalidade, não discute planejamento familiar. Mas une as mãos para rezar pelo fim da violência nas grandes cidades. Como se uma das matizes da violência não estivesse na falta de planejamento familiar e na falta de um debate em torno de uma melhor distribuição de renda e geração de emprego e educação. Não importa falarmos em adoção na grande mídia. Importa sim é encher página sobre o tema quando falta pauta.

Olha, desculpe por dizer isso, é que já estive do lado de lá e sei que é bem assim que a imprensa se comporta. Quando não se tem assunto, aí é que se vai falar dos negros, dos órfãos, dos idosos. Mais uma vez, e acho muito desagradável ter que dizer isso o Globo Repórter prestou um desserviço a todos nós, que militamos e lutamos pela promoção e valorização da adoção em nosso país. Eu sou um militante sim. Não estou em nenhum grupo de apoio, até porque espero um convite para participar de algum, mas eu milito sim com a minha profissão e com as minhas palavras. Defendo a adoção sim, com unhas e dentes, porque é um direito. É um ato de amor e de doação, sem dúvida, mas também é um ato cidadão. É de direito de toda criança ter uma família, ter um lar, ter um pai, uma mãe, uma história. E não importa a cor e a saúde. O que importa é o amor.

Mais uma vez, a exclusão prevaleceu nas telas da tevê, da maior rede de tevê deste país. Se o programa foi bonito, até pode ter sido, mas o desserviço e a exclusão ficou clara. Colegas, vamos pensar mais, vamos pesquisar mais, faço um apelo para todos os colegas jornalistas. Vamos falar mais de adoção, vamos falar mais de adoção tardia, adoção interracial. Vamos praticar e viver a solidariedade, vamos democratizar a comunicação e falar também das mães e dos pais adotivos.

E plim plim pra todos nós...

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