quinta-feira, 16 de agosto de 2007

REPORTAGEM: O DILEMA DA SEPARAÇÃO DE IRMÃOS

Por Letícia Duarte, Zero Hora, Porto Alegre, RS

Porto Alegre, 12/8/07 - Para um terço das crianças atendidas em abrigos do Estado, as chances de adoção se reduzem a dilema.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os grupos de irmãos não podem ser separados, mas a determinação dificulta a concretização do sonho de ter uma família.

A polêmica divide candidatos a pais e profissionais da rede de proteção à infância, enquanto uma campanha da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) tenta aumentar o número de processos. Diante das restritas perspectivas de garantir adoções conjuntas, há divergência sobre o que seria melhor para esses pequenos abrigados: ganhar uma família adotiva ou perder irmãos de sangue?

O administrador de empresas Newvani Cirolini Correa, 35 anos, e a enfermeira Clarice Molina do Nascimento, 35 anos, depararam com o dilema há um ano, quando entraram com pedido de guarda provisória de uma menina de quatro anos, mantida em um abrigo da organização não-governamental SOS Casas de Acolhida, em Canoas, com mais três irmãs.

Em dezembro de 2006, o juiz Charles Abadie von Ameln negou o pedido de guarda, acolhendo orientação da promotoria pela manutenção do vínculo familiar. O casal, que já tem um filho de 12 anos, não se conforma. E mantém um quarto reservado para a menina na casa de três quartos no bairro Sarandi, em Porto Alegre.

- Para nós, seria muito mais cômodo gerar outro filho, mas a gente gostaria de propiciar a uma criança carente uma oportunidade de ter uma família, uma vida melhor. Não teríamos condições para adotar todas as irmãs, mas poderíamos dar uma vida melhor para ela. É difícil brigar na Justiça, pagar advogado, mas a gente está lutando. Não tínhamos consciência de que o processo seria tão burocrático - lamenta Newvani, 35 anos, que conheceu a menina de cabelos loiros durante um trabalho voluntário desenvolvido na instituição.

Adoção de apenas uma irmã está sendo avaliada

Mesmo com a negativa inicial, o caso não está encerrado. A psicóloga da SOS Casas de Acolhida Sonia Bagatini, especialista em violência doméstica contra crianças e adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP), diz que a Justiça encaminhou um pedido de avaliação sobre a possibilidade de separação das irmãs há 10 dias. A adoção também está impossibilitada porque ainda não foi feita a destituição do poder familiar.

- É preciso avaliar cada caso, mas se a adoção for trabalhada e garantir o vínculo entre irmãos, com visitas periódicas, a adoção em separado pode ocorrer. É melhor do que sentenciar essas crianças a serem institucionalizadas para sempre - diz Sonia.

Apesar da orientação do ECA, já houve decisões judiciais favoráveis à separação de irmãos. Para o juiz José Antônio Daltoé Cezar, da 2ª Vara da Infância e da Juventude da Capital e coordenador da campanha Mude um Destino no Estado, o principal critério é o tipo de ligação entre os irmãos.

- Às vezes, o vínculo é tão forte que seria desastrosa uma perda muito grande para crianças que já perderam tanto. Mas para outras não tem tanto impacto, porque esse vínculo não existe. É preciso verificar qual é o mal menor para elas - analisa Daltoé. rascunho

4 comentários:

5º ano B disse...

Em primeiro lugar é preciso analisar o vínculo entre as crianças, se ele existe é intenso é criminoso separar, como no caso do Natanael, que era muito apegado ao irmãozinho e tem marcas dessa separação.
Não basta pensar no bem dessa criança que vou amar e cuidar, mas pensar no bem das que ficam, o sentimento de rejeição é doloroso.
Em alguns casos é a única solução, e aí cotamos com o bon senso das familias adotivas e m manter o vínculo, mesmo que com encontros eventuais.

Anônimo disse...

Concordo, o vinculo deve ser analisado. Eu e meu marido adotamos duas irmãs biológicas e tenho certeza que seria uma perda desastrosa se as tivessemos separado, principalmente para a mais velha que na época tinha 3 anos. Vejo como elas são ligadas e companheiras. Ainda bem que conseguimos adotar as duas juntas. Fomos guiados por Deus, e nunca me arrependi de dizer sim para as minhas duas filhas.
e-mail para contato: sandratezza@yahoo.com.br

Giseli Elena Silva disse...

eu tenho duas filhas adotivas, e são irmãs de sangue, não tive esse problema de separar as irmãs, porque eu criei um vinculo muito forte cm as duas, e adotei as duas, mais eu acho assim, qdo se tem muitos irmãos e que não ha nenhum vinculo eu sou a favor que separe, porque um deles vai ter uma familia de verdade, e se não separar em quanto são pequenos, depois ninguem quer mais, onde vão completar 18 anos e ser jogados para fora do abrigo, porque é assim que funciona.

Anônimo disse...

Concordo com o vínculo, desde que exista. Eu eu meu marido estamos tentando adotar 02 irmãos (um de 03 e outro de 08 anos), e descobrimos agora que eles têm uma irmã de 02 meses - e nem sabiam desta gravidez por estarem no abrigo há um ano. Não há vílculo com este bebê, e mesmo assim estamos tendo muitas dificuldades. Creio que o ECA deveria ser revisto quanto a casos como este.