sábado, 16 de junho de 2007

FILHOS ADOTIVOS FALAM DE CORAÇÃO

Quando falamos de adoção, devemos ter o cuidado de analisar todos os lados de uma situação. Falar em adoção implica em olharmos e refletirmos sobre abandono, solidão e esperança. Para nos ajudar a ilustrar um pouco mais sobre este universo cercado de realidade e de dor, principalmente para os milhares de órfãos que vivem em instituições por todo o país, a professora-doutora Lídia Weber, da Universidade Federal do Paraná, em seu mais recente livro "Filhos Adotivos, Pais Adotados", nos envia, em especial ao PAIS ADOTIVOS SA, depoimentos de crianças abrigadas e de pais e filhos adotivos. Leia abaixo e junto acompanhe relatos de emoção, sonho, abandono e fé, fé em dias e momentos felizes:

LUIZ, 10 ANOS

"Meu pai morreu, minha mãe não tinha como cuidar de nós, daí vim pra cá, ela e minha tia me trouxeram. Tinha seis anos e minha mãe disse que ia vir me buscar no sábado e não veio… Já tenho dez anos e faz mais ou menos um ano que minha mãe não vem me ver, só uma tia de Santa Catarina. Não lembro como era a vida com minha família… mas é melhor aqui, lá era ruim… Meus desejos são que minha família seja boa, que não falte comida para minha mãe e que este lar não se desmanche para que outras crianças possam morar aqui… Quero ser adotado para quando eu crescer ajudar minha mãe… Acho que não fui adotado porque Deus não providenciou…Se eu fosse adotado ia ter uma família que me desse carinho, ia ser diferente, eu ia ser mais feliz…"

SORAYA, 11 ANOS

"Quando fui pela primeira vez para um orfanato eu era nenê de meses; o juizado me pegou em casa, não sei por que. Com um ano voltei para minha casa e fiquei em casa até os seis anos. Fugi cinco vezes de casa e eles me levavam de volta, eu fugia porque eu não gostava da minha mãe, às vezes ela judiava. Esta é a quarta instituição e estou com onze anos. Só conheço minha mãe, mas faz tanto tempo que ela veio aqui que não lembro mais…Da minha família eu não sei, acho que eu gosto um pouquinho só. Era mais ou menos bom e ruim. De bom é que minha mãe comprava coisas pra mim. De ruim… ela deixava a responsabilidade de cuidar de nenê e fazer comida na minha mão…minha mãe pisava na minha garganta… Se estivesse com ela… não sei… melhor aqui… Tenho só um desejo “ser adotada”, só… E ficar junto com minha madrinha, ela me deu uma bicicleta, mas eu não posso ficar com ela porque ela viaja… Seria ruim se isso não acontecesse. Acho que não fui adotada porque tenho bastante irmãos e por “causa” que minha mãe não deixa… Mas se eu fosse seria legal… Só !!!"


RICARDO, 14 ANOS

"Moro aqui desde os onze anos, foi minha mãe que levou a gente lá, daí um cara do juizado me levou… Fiquei mais perdido porque eu não conhecia ninguém. Tenho que me informar mais, não sei explicar por que moro aqui… Nunca recebi visitas, mas tenho pai, mãe, irmãos, tias e vôs…Tenho quatorze anos e agora não sinto nada por meus pais, nada… Quero casar, acho legal, eu quero construir uma família, um novo começo… ter filhos porque eu gosto muito de criança… Queria ser adotado “pra” ter uma chance de ter uma família e conhecer o mundo lá fora… Preferia um casal que fosse bacana… Já aconteceram vários problemas, uma casal quis me adotar, mas já tinha filhos, daí o juiz não quis deixar, iam dar mais amor para os outros filhos… e outra a família tem que ficar um mês no Brasil para habitar junto… eles acharam ruim, já tinha arranjado dois nos Estados Unidos… Não sei se vou ser adotado… Tenho uma esperança… mas de quinze para cima não vai mais…"


FAMÍLIA CUIDA DA GENTE

Emanuelle Nogueira

Eu sempre soube que era filha adotiva. Acho bom porque tenho uma família que gosta muito de mim. Acho que gostaria de conhecer minha outra mãe, só para ver como ela é, mas não quero morar com ela. Gosto da minha família! É legal falar de adoção para outras pessoas... Tem muitas crianças nos orfanatos e acho que falar de adoção pode ajudar essas outras crianças que podem ser adotadas como eu fui. É bem gostoso ter uma família porque tem gente para cuidar da gente. Na primeira série eu contei para minha amigas que era filha do coração e que me escolheram. Eu gosto de ser filha do coração e me acho uma menina feliz. Tenho bastante carinho da minha mãe e do meu pai. Eu queria dizer para minha mãe e meu pai que eu gosto muito de estar na casa deles e que eu amo “eles”. Eu queria que todas as crianças pudessem ter uma família como eu tenho.

Emanuelle Nogueira, estudante, tem 7 anos e é filha de Tereza Nogueira Rodrigues Ferreira e de Valdir Antonio Ferreira. Tem 3 irmãos: Geovana, 19, Elton, 12 e Maria, 33. Residem em Curitiba – PR.


TODAS AS CRIANÇAS DEVERIAM MORAR COM UMA FAMÍLIA

Cláudia Maria Laskos

Não acho que exista diferença em ser filha adotiva. Uma pessoa pode ter nascido da barriga e outra ter sido adotada e o amor é o mesmo. O mais importante é a gente ter o carinho da mãe. Tem gente que fica me perguntando como é ser filha adotiva, se é ruim. Eu digo que não tem nada a ver, que o amor é igual (ou pode ser melhor!) e que a gente tem muita sorte de ter uma família porque tem muitas crianças que ficam a vida toda em orfanatos. Isso é triste. Eu me sinto uma criança bem normal e... feliz!

Eu só tenho mãe e ela é legal pois faz o papel de mãe e de pai; às vezes isso também pode ser melhor porque vejo que tem muitos pais que bebem, maltratam os filhos ou a esposa... No dia dos pais eu faço homenagem para a minha mãe! Sempre vai o meu padrinho nas festas e ele ganha o presente do pai, mas mesmo assim sempre tem um presente que dou para a minha mãe. Ela é minha mãe-pai!

Penso que é importante falar de adoção porque as pessoas podem se tocar com isso e também adotar uma criança. Se outras pessoas adotarem essas crianças, vão ser felizes e vão saber o que ter pai e mãe, família... Fico triste quando ouço que têm crianças que moram nas ruas. Não acho certo. Acho que todas as crianças deveriam morar com uma família.

Não, eu não penso e nem tenho vontade de conhecer e muito menos de voltar com a mulher que me carregou na barriga. Estou bem demais aqui e nunca, nunca mesmo, quero ir embora nem ficar longe da minha mãe. Não é importante se eu sou morena e a minha mãe é loira. Isso não tem nenhuma diferença no carinho que a gente sente uma pela outra. Deixar uma mensagem para minha mãe? Bem, eu quero dizer: “obrigada porque você me dá a maior força e... eu adoro você!” Nossa! Eu não largo dela nunca! Somos muito felizes!

Cláudia Maria Laskos tem 9 anos, é estudante, e reside em Curitiba com sua mãe Paulina Laskos, técnica de ensino (SENAI/PR).

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei a historia da Claudia.
Tenho uma filha de 6 anos adotiva.
Ela me pergunta muito sobre a mulher que carregou ela na barriga, porque não ficou com ela.
Muitas coisas eu não sei, pois o Forum nao passou.
Como posso explicar para ela?